Dez questões sobre a prática do Budismo

Significado dos oferecimentos ao Gohonzon

 "1. Porque oferecemos incensos e velas ao Gohonzon?
Em relação a pratica do Gongyo e Daimoku, limpar o oratório, oferecer arroz, frutas, água e folhas verdes de shikimi e, ainda, queimar velas e incensos todas a manhas e noites nas orações são expressões fundamentais da nossa sinceridade, por meio da qual acumulamos grande boa sorte. Ha muitas parábolas nas escrituras budistas que contam os grandes benefícios obtidos pelo oferecimento de velas ou luzes ao Buda. O 23° capítulo do Sutra de Lótus, "Bodhisattva Yakuo", conta a historia do Bodhisattva Yakuo, que recebeu incalculáveis benefícios por queimar seus ossos em oferecimento ao Buda. O sutra Kengu explana sobre uma mulher pobre que vendeu seu próprio cabelo para comprar um pouco de linho e óleo e oferecer claridade ao Buda. O sutra diz que sua lamparina continuou acesa por toda a noite, enquanto outras lamparinas doadas por ricos senhores aparam-se com um forte vento.
De acordo com essas escrituras budistas, lamparinas ou velas têm sido oferecidas nos templos budistas desde tempos antigos. A luz simboliza a sabedoria do Buda porque ilumina a escuridão.
Nesse sentido, incense e velas têm sido amplamente usados como oferecimento típicos ao Buda. Contudo, se é impossível oferecer isso, por exemplo, por causa de crianças pequenas que não entendem ou porque não pode obter folhas verdes, pode-se usar luz elétrica em vez de velas, ou substituir o shikimi por folhas artificiais. O mais importante é servir ao Gohonzon com todo o coração e não ficar preocupado demais com as formalidades dos oferecimentos.
2. Porque batemos o sino ao fazer o Gongyo?
O significado real de utilizarmos o sino ao fazer o Gongyo é louvar o Buda por meio do som. É como tocar uma música agradável que da paz e tranquilidade ao ouvinte. Portanto, o sino não deve ser batido violentamente e de preferência deve-se utilizar um sino que produza um som agradável.
Por outro lado, quando se faz o Gongyo em grupo, o sino é utilizado para indicar o início e o fim das orações. Entretanto, a razão fundamental é louvar o Buda.
3. Porque oferecemos shikimi ao Gohonzon, em vez de oferecer flores bonitas?
Porque o shikimi é uma árvore aromatica e sempre verde, e as outras flores murcham logo, não obstante o quanto possa parecer belas ao florir. Nitiren Daishonin nos ensinou que nossa vida é eternal; as folhas de shikimi, sempre verdes, simbolizam a eternidade da vida. Esta é a primeira razão.
Outras razões por que oferecemos o shikimi é para agradecer ao Buda com sua fragrância. Na Índia, quando Sakyamuni pregou seus ensinamentos, ao seu redor havia muitas plantas aromáticas, tais como ales e sandalo. Mas, no Japão, a única planta aromatica apropriada para oferecer ao Buda é o shikimi.
Fora do Japão onde não se encontra o shikimi, São usadas outras especies de plantas tais como o pinheiro e outras semelhantes. Pode-se oferecer, entretanto, qualquer outro ramo que seja sempre verde.
4. Porque oferecemos água ao Gohonzon?
A água sempre foi considerada um símbolo de pureza. Desdes os tempos antigos, oferecer água pura sempre foi considerado como sendo um gesto dos mais nobres, pois ter acesso a água potável não era algo muito simples, como atualmente. Até hoje quando alguém visita nossa casa, nós oferecemos água! No caso do Gohonzon a água deve ser oferecida apenas durante o Gongyo da manhã. Uma vez terminada a liturgia, deve-se se esvaziar o recipiente, evitando joga-la fora pelo ralo ou algo assim. O ideal é colocar a água na natureza, como num vaso de planta ou até mesmo bebe-la."

5) É verdade que o curso da vida de uma pessoa é predeterminado?
 Para explicar a relação entre a vida humana e o destino, devemos compreender primeiro o que é destino. É de opinião geral que o destino é uma força impessoal ou algo indefinível que predomina na vida de uma pessoa. Entretanto, esse modo de pensar não é a melhor resposta.
O destino, conforme expõe o budismo, é baseado na lei de causa e efeito, que é intrínseca à vida humana. Sobre este ponto, o célebre filósofo alemão Schiller insistiu que o destino de uma pessoa existe em sua mente. Essa idéia é compatível com o conceito budista de destino. Entretanto, existe uma diferença: o destino existe na própia vida da pessoa e não em sua mente, como disse Schiller. Além disso, pode-se dizer que o destino de uma pessoa não é estático, ao contrário, ele se altera e muda. Pode ser pesado ou leve. Ambos são determinados pelo carma. Um destino leve, causado por um carma leve, pode ser alterado facilmente, mas um destino pesado é difícil de ser transformado. Algumas pessoas pensam que podem mudar livremente o curso da vida por livre espontânea vontade. Entretanto as experiências provarão o contrário.
Há uma explicação da lei de causa e efeito no Budismo de Nitiren Daishonin que esclarece que a vida tem sido contínua desde o passado até o presente. Também revela a existência da “pura e poderosa força vital” (estado de Buda) em nossa vida. Essa força é a força que influencia  e transforma o destino de uma pessoa.
O budismo de Nitiren Daishonin é o único ensino que possibilita a transformação do destino, mesmo o mais pesado.
Por meio da prática do Budismo de Nitiren Daishonin, pode-se transformar a vida em algo precioso, conduzi-la à felicidade absoluta e usufruir da verdadeira liberdade.
6) Quando vários pensamentos atrapalham a prática do Gongyo e do Daimoku, devo insistir em continuar praticando?
É claro que deve continuar praticando. A finalidade da prática do Gongyo e do Daimoku é a revelação do estado de Buda. Em outras palavras, é o trabalho de purificação da vida.
As pertubações no pensamento podem ter origem nas impurezas da vida, portanto, mesmo que se encontre nessas condições, deve persistir na prática para purificar sua vida e transformar as pertubações em oração e determinação para a realização dos objetivos.
7) Como o budismo encara a criação da vida  e a vida após a morte?
O budismo explica a vida por meio do princípio de kuon, ou eternidade. Nitiren Daishonin esclarece esse conceito no Ongui Kuden (Registros dos Ensinos Orais), dizendo: “Kuon significa não ser criado nem adorado, mas permanecer na existência original”.
“Não ser criado nem adorado” significa que a vida não é alguma coisa criada numa determinada época, mas existe originalmente desde o infinito passado, é inerente ao Universo. Significa também que a vida em si não é algo que possa ser alcançado pelos nossos cinco sentidos. A vida não é uma entidade física viva. Embora seja possível  ver os incontáveis aspectos físicos e espirituais da vida, é dificílimo compreender realmente que a própia vida é efeito das incessantes transformações perceptíveis dela própia. “ Permanecer na existência original” significa que a vida tem existência eterna.
Portanto,  do ponto de vista do budismo, existe desde o infinito passado ao infinito futuro, alternando-se entre as duas formas de realidade, que denominamos vida e morte.
Evidentemente, é mais fácil obter conhecimento sobre os seres vivos. Somos capazes de observar a aparência de uma pessoa e, baseados em nossas percepções de sua voz, expressões físicas e ações, podemos conhecer bastante sobre as funções espirituais que se desenvolvem em seu interior. Entretanto, quando se trata da morte, fica muito difícil explicar por que, nesse estado, uma entidade não manifesta nenhuma de suas funções físicas ou espirituais. Como ninguém consegue ver a vida nesse estado por meio dos cinco sentidos, muitos sentem profundamente que a vida desaparece completamente com a morte. Porém, na realidade, a vida continua a existir, modificando-se apenas o estado de sua existência.
Em Diálogo sobre a Vida, o presidente Ikeda faz a seguinte explanação sobre kuon em termos de vida cósmica: “A essência da vida cósmica, provocando as mudanças fenomenais do crescimento, maturidade, declínio e kuu(existência e não-existência), expande-se no infinito espaço-tempo. Expende-se devido ao kuon, que está contido nas profundezas  do universo neste exato momento, e ao afloramento da intrínseca energia cósmica denominada Nam-myoho-rengue-kyo. O mundo real existe num único momento presente – não no passado ou no futuro”.
A folha de balanço do carma de uma pessoa, formado durante a vida atual, decidirá o grau de prazer ou dor que ela experimentará no período da morte. A duração desse período é também decidida pela folha de balanço do carma. Quanto mais leve o carma, isto é, quanto mais elevada a condição interior da vida ao logo antes da morte, menor será a duração da vida no estado de morte. Terminado esse período, a vida novamente aparece no mundo e manifesta suas funções físicas e espirituais.
Quanto aos aspectos da “nova” vida, as diferenças individuais, tais como aparência, inteligência e talento; a família, que pode ser feliz, rica ou pobre; e os múltiplos aspectos de sua sociedade e da terra – tudo isso reflete agudamente o carma formado nas existências anteriores.
8) Ao fazer o Gongyo, há alguma regra particular sobre o tom de voz, a quantidade de Daimoku e em que parte do Gohonzon devemos olhar?
Não há regra específica sobre esses pontos. Entretanto, como o Gongyo é a base da prática budista e a mais importante cerimônia de devoção ao Gohonzon,  devemos nos sentar com o corpo ereto, manter boa postura e levar em consideração os seguintes pontos:
Embora haja diferenças de uma pessoas a outra, a voz ao fazer o Gongyo deve ser forte e ressonante. Se a voz for fraca e desprovida de energia vital, não poderá emanar o poder para transformar o carma e vencer a natureza maléfica da vida. Mas uma voz alta demais, principalmente as altas horas da noite, pode incomodar os vizinhos ou mesmo os própios familiares.
O “Registro dos Ensinos Orais” diz: “A voz executa o trabalho do Buda”. Assim, o Gongyo deve ser conduzido numa tonalidade poderosa e revigorante, com ritmo e com pronúncia correta.
Não há regra de quanto Daimoku, devemos recitar. O importante é recita-lo com sinceridade e contentar nosso coração. Para orarmos com sinceridade
9) Não obstante o Gohonzon ser considerado a incorporação de Lei Fundamental do Nam-myoho-rengue-kyo, sua adoração não seria uma idolatria?
Analisando superficialmente, podemos dizer que o Gohonzon se enquadra na categoria de símbolo da insondável Lei do Universo. Ele pode ser considerado como o símbolo da própria vida.
O aspecto errôneo da idolatria é o fato de a veneração dirigir-se ao próprio objeto, negligenciando o princípio ou a lei que ele deveria representar. Nessa forma de prática religiosa, o ídolo torna-se um objeto absoluto de adoração, e o ser humano passa a subordinar-se a ele. O Gohonzon é um objeto de devoção essencialmente diferente de qualquer ídolo, pois nós, membros da BSGI, adoramos a Lei do Nam-Myoho-Rengue-Kyo inscrita no Gohonzon. Dessa forma, a adoração é feita à própia Lei por meio da recitação do Daimoku  ao Gohonzon. A diferença, portanto, é bem clara.
Devemos também analisar essa questão sob o ponto de vista da posição em que o ser humano torna-se seu subordinado. Em diversas doutrinas, devido ao papel servil conferido ao ser humano, aqueles dotados de maior poder impuseram-se aos demais. Nessas circunstâncias, as relações mútuas entre as pessoas são mais importantes do que as relações entre o ser humano e seu objeto de devoção.
No entanto, as formas primitivas de idolatria, embora tivessem a finalidade definida de satisfazer as necessidades religiosas das pessoas, eram basicamente impotentes para atender à grande maioria delas. È provável que alguma forma de êxtase religioso tivesse existido naquela época, mas o fato é que a solidez dada ao dia-a-dia dos povos não foi nada significativa.
O Budismo, entretanto, não nega nem glorifica os poderes do ser humano. Ao contrário, esclarece que o inerente estado de Buda, a mais alta condição possível de vida, existe nas profundezas da vida de cada um. O Gohonzon é o objeto por meio do qual é possível manifestar essa condição, e não pela lei que ele representa.
È essencial, então lembrar que o Gohnzon é a incorporação da Lei cósmica fundamental que opera em nossa vida, não tendo, portanto, existência independente sob a forma de ídolo ou entidade transcedental.
10) O que é carma?
A palavra sânscrita karma significa literalmente “ação”. O budismo identifica três categorias de ação: física, verbal e mental. Em outras palavras, a pessoa forma o carma de três maneiras: pelo pensamento, pelas palavras e pelas ações. Mesmo que não traduza seus pensamentos em palavras ou ações, e que os outros não saibam a respeito, a pessoa não deixa de formar algum carma por meio do pensamento.
A sequência normal para a formação do carma é a seguinte: primeiro as intenções – tanto positivas como negativas – agem na mente as pessoa. Segundo, as intenções originam as palavras e ações reais. Em terceiro lugar, os efeitos dessas palavras e ações não desaparecem, mas permanecem na vida da pessoa como uma espécie de força ou energia latente. Assim, se forma o carma, uma espécie de força potencial para decidir o destino da pessoa. Tanto o bom como o mau carma é acumulado gradativamente na oitava consciência (alaya).

Alaya significa “depósito”. A consciência alaya é assim denominada porque todas as experiências passadas – carmas – são depositadas lá. A consciência alaya é considerada como um “agente” que passa pelo ciclo de nascimento e morte na vida do indivíduo.
O carma como uma força potencial é denominada de carma latente, carma não-manifesto ou ações cármicas. Ele é invisível, todavia produz efeitos visível.
A força do carma depositado como energia latente na consciência alaya  não diminui  nem desaparece por si só. As ações cármicas, positivas e negativas, continuarão a existir na consciência alaya até que, ativadas pelos estímulos externos, manifestem-se com os efeitos correspondentes. Boas causas trazem efeitos agradáveis e causas más, efeitos dolorosos. Assim, as ações do passado exercem influência na vida presente ao passo que a vida presente formará, por sua vez, o futuro. A lei de causa e efeito permeia a vida através do passado, presente e futuro.
O grau do carma depende da força da intenção. Por exemplo, quanto maior for o ódio que uma pessoa sente ao agir, maior será o grau de mau carma que ela criará. Além disso, o grau do carma formado aumenta à medida que os pensamentos dão origem às palavras e ações. Quando alguém se sente ressentido e guarda isso somente consigo próprio, o carma formado em sua vida é relativamente leve. Entretanto, ao traduzir sua raiva em forma de ação física ou verbal, cria um carma mais pesado. O grau do mau carma que se forma varia de acordo com aquilo que odiamos. Nitiren Daishonin afirma na escritura “Carta aos irmãos”:”Para simplificar, se alguém golpear o ar, seu punho não ficará ferido, mas se bater numa rocha, sentirá dores... A gravidade de um pecado depende de quem ferimos”.
Na “Carta de Sado”, Daishonin cita os oito tipos de sofrimentos descritos no sutra Hatsunaion e ilustra a lei de causalidade de uma forma simples: “ Um indivíduo que escala uma montanha consequentemente terá de descer. Uma pessoa que insulta a uma outra será desprezada. Alguém que deprecia o belo nascerá feio. Quem rouba o alimento e as roupas de outros, nascerá no mundo da fome.(END,vol.1, pág.203)
O carma divide-se em duas categorias: mutável e imutável. O carma imutável gera infalivelmente um resultado fixo. No caso do carma mutável, os tipos de efeitos que surgirão não serão fixos. Geralmente, considera-se que causas mais sérias, boas ou más, formam o carma fixo ou imutável. Acredita-se que o efeito do carma imutável aparece em um tempo certo, ao passo que o carma mutável não tem época específica para se manifestar. Nesse sentido, o carma imutável pode aparecer nesta existência, na próxima, numa terceira ou mais tarde ainda.
Como regra geral, o carma mais leve manifesta-se completamente na mesma existência em que foi formado. A maioria de nossas ações diárias pertencem a essa categoria.
Entretanto, se alguém cometer ofensas excepcionalmente graves esse carma pode ter continuidade, causando-lhe sofrimentos em uma outra existências, numa terceira ou por mais existências. O carma excepcionalmente bom, como aquele formado pela prática budista, também terá continuidade em outras existências.
Uma parte do carma acumulado em nossa consciência alaya  foi formado por nossas atitudes desde o momento de nosso nascimento. Parte desse carma poderá manifestar seus efeitos nesta existência e parte na próxima ou mais tarde ainda, dependendo de sua natureza. Acrescentando às nossas ações atuais, o carma acumulado em existências passadas tem um importante significado para nossa felicidade ou infelicidade.
A força do carma latente não acaba com a morte. Como a consciência alaya resiste ao ciclo de nascimento e morte, o efeito do carma acumulado é transmitido de uma existência para outra, continuando a influenciar nossa vida. Em outras palavras, nascemos com o carma do passado já acumulado nas profundezas de nossa vida. Isso é o que diferencia as pessoas desde o momento do nascimento.
O budismo considera, de modo geral, que aqueles que nascem no mundo da humanidade estão destinados a viver no máximo até 125 ou 150 anos.  Assim, alguns nascem com o carma de longevidade e outros, com o carma de morrer cedo vítimas de acidente ou de alguma doença incurável. Entretanto, se uma pessoa consegue transformar seu carma imutável e prolongar a extensão de sua vida, então poderá facilmente transformar qualquer outro carma. Não importando o quanto seja terrível o carma que uma pessoa traz das existências passadas, ela poderá transforma-lo para um carma melhor, sem mencionar aquele formado na existência atual.
O Budismo de Nitiren Daishonin ensina que é possível mudar ou amenizar até mesmo o carma profundamente enraizado na vida por meio da prática budista.

Fonte: Guia Pratico do Budismo, pg 52, 98 e 102. Editora Brasil Seikyo – Julho de 2000.
Colaboração Izabella Salomão